Um fator existencial universal comum é que funda a amizade, e, portanto, neste aspecto, se projeta à sociedade política como um fenômeno espiritual generalizante e digno de ser repetido. Seria obscuro afirmar que, se a amizade não tem um anteparo espiritual que valha a atenção não somente do indivíduo atomicamente considerado, mas do indivíduo enquanto uma inteligência que considera uma série de outros valores equiparáveis aos da amizade – como a sua estima e entrega pela família, – ela, então, por si mesma, seja digna da mais rasteira consideração que seja. A integridade da consciência humana exige um certo proselitismo, que é a seletividade do engrandecimento, da honestidade recíproca, etc. Se é verdade que devemos “amar os demais por aquilo que são”, não menos categórico seria dizer que amar ao ponto da degenerescência, da dissolução da personalidade, da tibieza animal da inteligência, é o mesmo que se tornar, sucessivamente, incapaz do amor ideal ao próximo. Nada que em conjunto deixa de manter um padrão de elevamento pode estar alicerçado no amor. A única exceção possível a este fenômeno do obscurecimento humano é a personalidade individual, forte, íntegra, corajosa e sensata que pode lançar uma luz sobre a casualidade do grupo. No entretanto, não duvido de que, na mais profunda acepção do ato, permaneça sempre um fundo de persistente, homérico esforço pessoal.
Igor RivellinoSem categoria