Sinfonia das luzes

Noite Dia

O apogeu escatológico da confusão universal será o conflito pela consciência. Não haverá proibição do pensamento: pensar por si só será algo impensável. É assim que entre vastidões indizíveis de escuridão humana resplandecerá a estrela de uma cada vez mais rara e no entanto crucial esperança. Submersos no puro caos agônico e inconstante de sonhos superficiais e fantasmas persecutórios, os homens se debaterão na cela de uma liberdade volátil, vítimas da guilhotina de retóricas imediatas, da explosão ufana de instintos fragmentados e fora de controle. Pelas ruas, num verdadeiro pandemônio da marginalização, será anunciado, sob os brados de uma retumbante blasfêmia, o dramático martirológio da Unidade. Multidões se levantarão contra as pedras fundamentais da Natureza, cuspindo nas suas próprias origens, negando a existência primordial que une os corações e justifica a luminosidade onipresente das almas. É a guerra entre tudo e todos. É a tempestade final que derrocará o pensamento nos despenhadeiros da negação absoluta. Porém, a Verdade é forte e ressuscita a cada vez que a mão da carnificina dos séculos a afronta e contraria… Quando, do sepulcro de um luto antigo emergir toda a cidadela de luzes futuras, dançando sobre a destruição, é que se demonstrará gloriosamente o amor vivificante da Verdade, presidindo a nós, pecadores, a nós, errantes de cênica vaga e indecisa, a nós, perpetuadores da desordem maior, escravos da oratória invisível das sombras que pervagam entre o delírio e a chama – a nós, descrentes e obstinados, loucos e indefesos na tormenta dialética da matéria. A Verdade é imortal: não é um valor – ela possui um valor, que não é simbólico em sua essência, mas a própria realidade que manifesta, átomo a átomo, a onipotência e vontade soberana do Senhor, trovoando os relâmpagos da Sua suprema glória pelos céus imensos. A Verdade habita em nós – e se há uma luta, e se o mundo é inteiramente consumido pelas trevas, e se Babel ecoa o espírito da grande cegueira, cabe a cada um levantar o Cosmo inteiro com a coragem de um único gesto: o de erguer e levar a cruz, o de viver ainda que sanguinariamente as provações sinceras, obscuras e luminosas da existência. A nossa jornada não é mais do que isto: a grande marcha de retorno a Sião, a fé inabalável em Jerusalém rediviva após a grande hecatombe. O crer no mural de todas as glórias que nos foi prescrito. Amar incondicionalmente, amar a Verdade, amar a cósmica e irrefutável autoridade das leis de Deus em cada coisa, fato e pessoa. Eis a arte das luzes, eis a grande valsa das lâmpadas transcendentais: a pura fé Naquele que vive!

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